sábado, 21 de janeiro de 2017

JANELA INDISCRETA (Rear Window, 1954)


UM FILME EXCEPCIONAL, MAS QUE INFELIZMENTE PECA NO ÚLTIMO MINUTO.

país produtor: Estados Unidos da América
direção: Alfred Hitchcock
roteiro: John Michael Hayes
elenco: James Stewart, Grace Kelly

sinopse: um fotógrafo com a perna engessada e entediado passa a observar pela janela a vida de seus vizinhos. Até que um dia ele presencia o que pode ser um assassinato, iniciando com isso uma investigação com a ajuda de sua namorada.

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Hitchcock adorava propor ao público exercícios desafiadores, usando para isso do mais puro cinema, ou seja, de suas possibilidades narrativas no uso do som, da montagem e da fotografia. Era um grande esteta, um revolucionário, um homem a frente do seu tempo, sem dúvida.

Foi também um incompreendido em Hollywood. OK, seus filmes faziam sucesso e o diretor era uma figura popular, mas o meio acadêmico não levava a sério seus filmes de suspense. Tanto isso é verdade que, até o lançamento de Janela Indiscreta, Hitchcock havia sido indicado ao Oscar em três ocasiões. Em nenhuma delas por conta de um filme desse gênero, que ele dominava como ninguém.

Temos aqui um exemplo desse pleno domínio de Hitchcock no ofício em contar uma história de mistério e suspense. Janela Indiscreta é um marco no cinema. Nunca antes um filme havia se utilizado de um único ponto de vista e se passado em tão reduzido espaço (o apartamento do personagem de Stewart) para contar, talvez, uma história de assassinato. Digo "talvez" pois tudo o que temos é a visão de um homem e de suas suposições sobre o que acontece à frente de sua janela, em Greenwish Village, Nova York.

Através de uma excelente montagem, Hitchcock dialoga com o espectador e o provoca: será tudo isso a alucinação de um homem, ou realmente aconteceu um crime? Além disso, nos brinda com uma maravilhosa ambientação sonora e visual: nas janelas abertas dos vizinhos a vida transcorre em meio aos sons de um piano, às gargalhadas, ao burburinho da cidade. Sons esses que muitas vezes substituem a trilha sonora, algo muito a frente do seu tempo, há 60 anos atrás, quando uma trilha sonora presente e pouco sutil era a tônica do cinema de Hollywood.

Visto pela primeira vez na minha adolescência, foi um prazer rever esse clássico depois de tanto tempo, pois me foi revelado o quanto ele ainda hoje pode surpreender esteticamente ao público contemporâneo, o que é incrível. Contudo, não pude deixar de me decepcionar, em seu desfecho, com a surpresa desnecessária diante de uma suposição que, confirmada, foi difícil de engolir (prefiro não citá-la para evitar spoiler). Ainda assim, a ousadia do cineasta em entregar ao grande público um exercício narrativo como esse tem que ser sempre louvado. O erro na conclusão é um problema menor diante das qualidades desse que é, com toda justiça, um filme referência para qualquer grande amante da sétima arte.

Visto em VHS nos anos 80 e revisto em 2014 no Netflix.