domingo, 21 de fevereiro de 2016

ALI (Ali, 2001)



ESQUEÇA TOURO INDOMÁVEL OU ROCKY. AS MELHORES CENAS DE BOXE ESTÃO AQUI NESSE FILME.

país produtor: Estados Unidos da América // direção: Michael Mann // elenco: Will Smith, Jamie Foxx, Jon Voight.

sinopse: Biografia do boxeador Muhammad Ali (nascido Cassius Clay).

Metascore: 65 (from metacritic.com)

-------------------------- 

É um desafio e tanto retratar 10 anos tão intensos para a cultura, política e boxe como o período de 1964 a 1974. Da emergência dos movimentos negros, passando pelos protestos contra a Guerra do Vietnan, Cassius Clay foi, como nunca na história do esporte, um personagem protagonista.

Dificilmente uma cinebiografia desse incrível boxeador poderia renegar a sua atitude política em não se alistar, de estar ao lado dos negros oprimidos e segregados, além de sua polêmica opção religiosa e mudança de nome para Muhammad Ali. No entanto, nesse contexto bastante complexo e amplo faltou, infelizmente um rumo certo para o roteiro. São duas horas e quarenta minutos de filme em muitos momentos mal aproveitados por essa falta de foco narrativo.

Mas como resolver isso? Talvez focando o filme nos acontecimentos da até hoje considerada como a maior luta de todos os tempos, entre Muhammad Ali e George Foreman, no Zaire. Afinal, essa luta, já narrada de forma estupenda no filme documentário Quando Éramos Reis, teria, com alguma dramatização, elementos narrativos para manter o interesse da platéia. Botando nessa receita alguns flashbacks de momentos chaves da trajetória de ambos os lutadores teríamos, acredito eu, um roteiro mais eficiente. Você concordando comigo ou não, uma coisa é fato: do jeito como a coisa ficou, Ali não passa de uma colcha de retalhos que pode causar tédio em alguns momentos em vez de entreter.

Vamos então falar das coisas boas: temos aqui uma direção estupenda de Michael Mann. O que esse cara fez é algo que coloca as lutas desse filme em um patamar acima do que eu já havia visto em filmes como Touro Indomável ou Rocky. Além do rigor histórico, Mann conseguiu transmitir com intensidade como realmente é uma luta de boxe, sem afetações e dramatizações desnecessárias. Os golpes são dados de forma crível, sem as facilidades que vemos nos filmes citados. Há ainda uma ótima edição de som e de imagem que faz com que a encenação de lutas clássicas, como Cassius Clay vs. Sonny Liston sejam o ponto alto do filme.


Infelizmente, sobre a mítica luta no Zaire, há aqui um erro histórico. Muhammad Ali, diferente do que o filme mostra, dominou grande parte dessa luta. Desde o primeiro round foi ele quem desferiu os golpes mais impressionantes, principalmente se aproveitando da guarda aberta pelo meio de George Foreman. Seus diretos de direita, um golpe totalmente improvável e afrontoso, desestabilizaram psicologicamente Foreman, que no quinto round foi salvo pelo gongo diante de um avassalador contra-ataque de Ali, que quando podia emergia das cordas e inchava seu rosto.

Era senso entre os presentes, após esse quinto round, que seria questão de tempo para Ali ganhar a luta frente a um cansado Foreman. Dessa forma, não dá para engolir o corner de Ali gritando no oitavo e decisivo round "não vá para as cordas", quando era senso entre todos que essa tática estava sendo genial e cansando o oponente.

A tática de usar as cordas não foi uma ideia alucinada de Ali, mas algo premeditado. Tanto que antes da luta iniciar o treinador dele foi filmado afrouxando-as, na maior cara-de-pau. Sim, no boxe até os mais geniais lutadores tem que ter suas malandragens.

Nunca se viu uma luta como essa, em que tal quantidade de golpes de um lutador (Foreman) poderiam ser tão pouco eficientes. Já Ali, com uma tática perfeita de contra-ataques e diretos no meio da guarda de Foreman, deu uma aula de técnica e eficiência, até hoje reverenciada pelos amantes desse incrível esporte.

Para quem tiver curiosidade, esse duelo histórico está no Youtube: https://youtu.be/55AasOJZzDE

Pois bem, Ali, apesar de seus problemas de roteiro, é um espetáculo de grandes qualidades, respeitoso para com o boxe, tecnicamente impecável e com diversos momentos de pura arte, como era a técnica de Muhammad Ali. Merece ser visto, mesmo por quem não é fã do lutador.

Visto em 2015, em arquivo digital.

Nenhum comentário:

Postar um comentário