domingo, 13 de março de 2016

SPOTLIGHT - SEGREDOS REVELADOS (Spotlight, 2015)


EXCESSO DE DIÁLOGOS E POUCA APROXIMAÇÃO COM O PÚBLICO FAZEM DE SPOTLIGHT UM TÍTULO AQUÉM DO PRÊMIO QUE RECEBEU.

país produtor: Estados Unidos da América // direção: Tom McCarthy // elenco: Mark Ruffalo, Rachel McAdams, Michael Keaton, Liev Schreiber, John Slattery

sinopse: Em 2001, um time de jornalistas investigativos do Boston Globe recebe como missão de seu novo chefe a apuração do envolvimento de um padre da cidade em casos de pedofilia. A partir daí descobrem uma rede de proteção de autoridades e membros da alta cúpula católica a dezenas de casos semelhantes. Oscar 2016 de melhor filme.

Metascore: 93 (from metacritic.com)

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A verdade contra a hipocrisia, eis aí o tema central de Spotlight.

Hipocrisia pois era do conhecimento de muitos em Boston que havia algo de errado dentro das paróquias, igrejas e colégios da cidade, entretanto era mais conveniente botar panos quentes, decerto. É estarrecedor, mas muitos outros Spotlights se fazem necessários para que sejam iluminados e (re)conhecidos não só casos de pedofilia, mas o lado obscuro de nossa sociedade e seus esquemas corruptos. Sempre haverá algo de podre no Reino da Dinamarca e é aí que entra o jornalismo investigativo.

Os Estados Unidos é um país que dá uma grande importância à liberdade de expressão e de imprensa. Então não é um acaso que esse escândalo que abalou a Igreja Católica tenha sido descoberto por lá. Não é por acaso também que os melhores filmes sobre o jornalismo, investigativo ou não, venham desse país.

Começo citando o já muito citado Todos os Homens do Presidente (1976), que reconstituiu o caso Watergate, determinante para a renúncia do presidente Nixon. Há também O Informante (1999), sobre o poder e o lobby da indústria do cigarro. E não posso deixar de falar de um filme que denuncia o jornalismo sensacionalista: O Quarto Poder (1997), além, é claro, do grande clássico Cidadão Kane (1941), sobre um jornalista que funda um império da informação e pouco a pouco corrompe os seus ideais. Qualquer profissional do jornalismo deveria ver essas obras e, agora também, Spotlight, que dá prosseguimento à boa tradição americana em falar sobre o ofício de informar.

Spotlight ganhou o Oscar 2016 de melhor filme em língua inglesa devido a essa cultura jornalística e tradição cinematográfica, não tenho dúvida disso. É um produto tipicamente americano e esse prêmio é sinônimo da aprovação da Academia à seriedade do tema e sua importância histórica. E realmente o filme é perfeito na sua sobriedade. Combina com o bom jornalismo.


Contudo, acredito que Spotlight é um filme que não está a altura desse grande prêmio. Claro, ele não é ruim e nem a sua escolha foi de toda injusta. Mas seu excesso de diálogos fez essa obra me parecer pobre em termos dramáticos. Há outras formas de se reconstituir tais fatos, acredite.

Entenda o que eu quero dizer. O cinema, antes de ser diálogo, é imagem. É ação, pura e simples. É pobre do ponto de vista estético um filme como Spotlight, em que 90% das cenas são suportadas pela fala dos atores. E a implicação de tantos diálogos vai além da questão formal ou artística. Em Spotlight você quase não respira, quase não há tempo para absorver a cena anterior, pois a próxima trará uma nova informação, que você tentará absorver e conectar aos nomes que você associa aos personagens e fatos, perdidos em dezenas de outras cenas, cheias de diálogos, sempre, e que são o quebra-cabeças da investigação. Ufa...

Por essa razão achei Spotlight um filme chato em alguns momentos. Podia ser diferente? Podia. Era só trabalhar com menos nomes e fatos, condensando os menos relevantes para o desenrolar da história, dando à plateia oportunidade de respirar e refletir. Uma boa edição também ajudaria a amenizar o excesso de informação que bombardeia o espectador.

Acredito também que faltou ir mais fundo na questão da hipocrisia, que citei lá em cima. O filme ganharia muito em impacto se o drama e a culpa do personagem de Michael Keaton fosse o norte do roteiro (no passado ele teve a oportunidade de desvendar esse mesmo caso, mas nada fez). Quantos de nós não se identificariam mais com o filme se víssemos em algum personagem, de forma mais contundente, nossas próprias angústias, medos e erros? Falta em Spotlight algo que considero essencial em qualquer bom roteiro: aproximação e dialogo com o público.


Se o roteiro desse filme não me agrada, em contrapartida achei muito boa a direção do pouco conhecido Tom McCarthy. Ele deu o tom certo ao filme, ajudado pela excelente trilha sonora e o elenco bem escalado e coeso.

Sem dúvida importante, Spotlight deve ser visto sem que dele se espere divertimento. O tema pesado, o grande número de informações e a forma como tudo foi encenado fazem desse um título difícil de agradar ao grande público. Mas a sua relevância histórica o coloca em uma posição acima de seus outros concorrentes, o que foi determinante para ser agraciado com o Oscar de melhor filme.

Visto em 2016, em arquivo digital.

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