domingo, 6 de março de 2016

O REGRESSO (The Revenant, 2015)


TECNICAMENTE IMPRESSIONANTE, MAS CARENTE DE UM SENTIDO MAIOR, ASSIM É O FILME MAIS COMENTADO DO OSCAR 2016.

país produtor: Estados Unidos da América // direção e roteiro: Alejandro G. Iñárritu // elenco: Leonardo DiCaprio, Tom Hardy

sinopse: Após ser atacado por um urso, o caçador de peles Hugh Glass é abandonado por sua equipe para morrer, devido à gravidade dos ferimentos. Mas ele sobrevive e começa uma jornada de retorno, lutando contra as adversidades da gélida natureza selvagem do velho oeste americano.

Metascore: 76 (from metacritic.com)

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OK, a direção é impressionante, os planos sequências são assombrosos, mas nada disso levaria tanta gente ao cinema e nem geraria tanto zum-zum-zum se não fosse Leonardo DiCaprio. Sim, ele é o dono desse filme. Oscar mais do que merecido para esse ator, por seu talento há muito conhecido e pela entrega ao personagem Hugh Glass.

Pois foi graças a essa entrega e a uma rede de notícias e boatos que foram fomentados pela cada vez mais sensacionalista internet, que parte considerável da audiência foi aos cinemas. A curiosidade acerca desse "tudo ou nada" do ator na conquista do aguardado Oscar, após quatro frustrações, tornaram O Regresso um campeão em trending topics e rastags na grande rede. As pessoas estavam indo ao cinema para "presenciar" um ator ícone do cinema contemporâneo sofrer de frio, ser esmagado por um urso, comer um fígado de búfalo mesmo sendo vegetariano, dormir dentro de uma carcaça de cavalo. O Regresso, com sua estética hiper-realista, virou de alguma forma uma espécie de reality-show estilo Survivor, onde o personagem principal é DiCaprio. Ponto para a ótima direção de arte e efeitos visuais.


Mas enxergar DiCaprio, e não Hugh Glass, vivendo uma gelada e terrível jornada de sobrevivência é o problema menor aqui. Mas calma, não acho essa obra ruim. O Regresso é sim um belo e impressionante filme. Mas, lamentavelmente, a minha sensação foi de ter visto uma história um tanto vazia, que pouco me trouxe de recompensa. O sentimento de "e daí?" que se seguiu ao fim da sessão me fez minimizar o impacto do apuro técnico da produção. No meu olhar, faltou um propósito maior nessa aventura de duas horas e meia. Faltou, em uma análise mais direta, um roteiro melhor trabalhado que desse a Glass um arco dramático que me satisfizesse ao acender das luzes da sala de cinema.

Arco dramático de um personagem é como se denomina a transformação que esse passa desde o início do filme até o seu final. Temos milhares de exemplos na dramaturgia de personagens que começam a sua aventura de um modo e terminam de outro, mais maduros, mais ricos, com algum ensinamento, com uma bela amizade, com sua personalidade modificada, para melhor ou para pior. De Cidadão Kane a Dança com Lobos, passando por O Poderoso Chefão e Karatê Kid, o arco dramático é basilar na nossa cultura de entretenimento, desde a Grécia Antiga.

Agora eu pergunto, qual o arco dramático do personagem Hugh Glass? Aprendeu algo com a natureza selvagem? Com alguém que tenha encontrado pelo caminho? Com seu inimigo? Com os índios? Pois é...

Contudo, foi muito prazeroso assistir esse filme. As imagens são deslumbrantes obras de arte. Não há nada na história do cinema comparável. Filmado com um rigor técnico absurdo, Alejandro González Iñárritu (diretor) e Emmanuel Lubezki (cinematografia) fazem aqui uma ode de amor ao ofício de fazer cinema.


Foram nove meses enfrentando as temperaturas negativas do Canadá e Argentina, sempre aproveitando a luz do entardecer. O Regresso é uma tour de force que deve ter exigido muito não só de DiCaprio, mas de toda a equipe técnica e elenco. Pelas características da produção, pela qualidade da cinematografia e jogo de câmera, esse é, sem dúvida, um filme ímpar.

Alejandro González Iñárritu prova mais uma vez que é o maior diretor da atualidade. Amores Brutos, 21 Gramas, Babel, Biutiful, Birdman... Nenhum desses títulos se destaca pela perfeição, mas sim pela ousadia e apuro técnico. Assim também é O Regresso, um filme imperfeito, mas belo e ambicioso.

Visto em 2016 em cópia dublada, no cinema do JL Shopping Center de Cascavel.

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