domingo, 20 de março de 2016

MELANCOLIA (Melancholia, 2011)

IRREGULAR E INQUIETANTE OBRA DA FASE DEPRESSIVA DE LARS VON TRIER.

país produtor: Dinamarca, Suécia, França e Alemanha // direção: Lars Von Trier // elenco: Kirsten Dunst, Kiefer Sutherland, Charlotte Gainsbourg

sinopse: Dividido em dois atos bastante distintos, Melancolia tem como personagens principais duas irmãs, também bastante distintas. No primeiro ato, uma delas (Justine), em plena festa de seu casamento, está lutando contra a depressão, enquanto a outra (Claire) tenta manter as aparências. Já no segundo, diante do iminente fim do mundo (um planeta chamado Melancolia irá se chocar contra a Terra), Justine parece conformada, sóbria e centrada; já Claire e seu marido não sabem como lidar com a situação.

Metascore: 80 (from metacritic.com)

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Todo fã do grande cineasta Lars Von Trier deve se lembrar do quiprocó que ele arrumou em Cannes ao fazer piada e provocação com um tema caro, o nazismo. Resultado: de queridinho na Riviera, Trier passou a persona non grata. Esse episódio me fez pensar muito na própria condição do cineasta e sua conhecida depressão.


Penso em Trier com compaixão, pois sei que as pessoas não tem paciência para com os enfermos da alma. O depressivo é uma pessoa só, incompreendida. E Trier foi, de fato, incompreendido em suas jocosas (e agressivas) observações. O resultado de tudo isso é mais uma vitória dessa terrível onda do politicamente correto e da geração mimimi. Trier, coitado, devia ter nascido nos anos 70 do século passado. Sua personalidade controversa seria mais bem aceita.

Quando vi Melancolia pela primeira vez nem mesmo sabia, mas esse filme faz parte de uma tal "trilogia da depressão" (deixo aqui um link que a explica muito bem: http://petcomufam.com.br/2014/02/lars-von-trier-e-a-trilogia-da-depressao.html). Pois bem, entrei no cinema ansioso em assistir o que meu falecido pai considerava um dos maiores filmes que ele havia visto. Por isso e pela assinatura desse diretor responsável por grandes obras como Ondas do Destino (1996) e Dogville (2003), esperava muito mais do que me foi entregue, infelizmente.

Pra começar, a festa de casamento que toma todo o primeiro ato me soou muito parecida com a brilhante encenação de Festa de Família (1997), dirigido por seu colega dinamarquês Thomas Vinterberg. Só que, diferente desse filme, Lars Von Trier contou aqui com um roteiro fraco, que insiste na bizarrice e em situações forçadas. O resultado é que isso me afastou do drama da depressão de Justine.


Já o segundo ato de Melancolia, com mais poesia (principalmente visual), é o que salva esse filme do fracasso completo. Não que seja extraordinária, mas há mais humanidade nas situações e nos personagens. Até mesmo as atuações de Kirsten Dunst (agraciada com o Cannes) e de Charlotte Gainsbourg são melhores aqui. E vou te dizer, que esplêndidas são as últimas cenas... Por isso meu conselho é aguentar até o fim. O filme é em muitos momentos chato, mas o final é avassaladoramente belo e angustiante.


Recentemente resolvi rever Melancolia na esperança de ter uma nova percepção sobre o filme. Isso já aconteceu comigo, de entender e gostar de uma obra apenas em uma segunda oportunidade. Mas não foi dessa vez. O drama de Justine continuava sendo sabotado por uma série de situações desnecessárias. Taí um filme que teria o prazer de remontar. Metade das bobagens da festa de casamento iriam para a lixeira.

O que posso dizer para finalizar é que, sem dúvida, Melancolia é um filme instigante e que, na sua ambição nos faz refletir. E isso não pode ser desprezado, assim como a originalidade que é esse apocalipse concebido por Trier. Isso somado ao seu tom pessimista faz de Melancolia um espetáculo memorável para mim, mesmo que dele não goste muito.

Visto em 2011 no Cinépolis Lagoon, no Rio de Janeiro. Revisto em 2015, em arquivo digital.

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