domingo, 3 de janeiro de 2016

CARTAS DE IWO JIMA (Letters from Iwo Jima, 2006)


UM RETRATO SENSÍVEL DO LADO PERDEDOR DA GUERRA DO PACÍFICO.

país produtor: Estados Unidos da América // direção: Clint Eastwood // elenco: Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya, Tsuyoshi Ihara, Ryo Kase, Shidou Nakamura

sinopse: A batalha pela conquista da ilha de Iwo Jima durante a Segunda Guerra Mundial pela perspectiva dos japoneses derrotados.

Metascore: 89 (from metacritic.com)

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Antes de mais nada, Kazunari Ninomiya, como o ex-padeiro que luta pela sobrevivência, está bem mais ou menos. Mas Cartas de Iwo Jima é tão bom, que não é uma atuação deficiente que será capaz de apagar as coisas belas desse filme, a obra-prima de Eastwood ao lado de Os Imperdoáveis.

A fotografia é soberba, não só pela escolha das cores, mas também pela iluminação dos cenários e dos corpos de soldados fadados a morrer, esquecidos em meio a megalomania imperialista de um país que, após as conquistas de inúmeras ilhas no pacífico e colônias no sudeste asiático, não puderam deter a impressionante reação dos Estados Unidos e sua máquina de guerra.

É um filme que fala de muitas coisas. Fala da derrota de um exército, a essa altura desmantelado, mal treinado, atrasado. Cartas de Iwo Jima é um raio-x límpido da derrota japonesa na segunda grande guerra.

Fala do fanatismo de um povo. Dos males do totalitarismo. De como a crença em um rei "divino" cegou uma nação próspera, levando à opressão, a supressão de liberdades, a milhares de mortes e traumas. As posteriores bombas atômicas foram a desculpa perfeita para que Hirohito, o rei macabramente "divino", declarasse a rendição incondicional, mesmo contra a opinião de generais incompetentes, que preferiam o massacre de seu próprio povo e mais destruição.


Por fim, fala de honra. Mas que honra? Explodir uma granada junto ao peito é mais honroso do que lutar até o fim? Triste distorção de valores...

Porém, mesmo falando de tantos aspectos ruins de uma nação derrotada em guerra, Cartas de Iwo Jima é extremamente respeitoso com os japoneses. Há humanidade nos personagens. O filme passa a acertada mensagem de que, naquela ilha, todos eram vítimas.

Como não poderia deixar de ser, o filme tem vários momentos pró Estados Unidos, o que eu não considero um problema. Há apenas uma cena em que soldados americanos cometem um crime de guerra. Em contrapartida, o exército japonês, conhecido por suas atrocidades, é quase poupado de cenas infames, que relembrariam os muitos crimes de guerra cometidos fanaticamente. No mais, é o poderio bélico americano que impera, em cenas de guerra muito boas.

Sensível, Cartas de Iwo Jima tem o poder de emocionar não só americanos, mas japoneses. Pois o Japão renascido do pós-guerra se converteu em uma nação de paz, ciente, assim como a Alemanha, de seus erros passados que, espero, não se repetirão jamais. Um filme inesquecível.

Visto em 2015 em arquivo digital.

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