quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

TOP 10 - CINEMA BRASILEIRO

Em 2015 a Associação Brasileira de Críticos de Cinema divulgou o seu ranking dos 100 melhores filmes brasileiros. Nas dez primeiras posições, a obra mais recente é Cidade de Deus, de 2002.

Por considerar o momento atual do cinema brasileiro, em uma fase iniciada no final do século passado, mais maduro, técnico e equilibrado, resolvi fazer essa lista. Sem critérios históricos, mas apenas artísticos, eis aqui o que de melhor o cinema brasileiro produziu em sua história.

É o melhor documentário de Eduardo Coutinho. Um comovente estudo sobre o ofício de atuar. A ideia genial: a partir de um anúncio publicado nos jornais e distribuído em pontos de grande movimento, mulheres são convocadas a dar depoimentos sobre suas vidas. Depois, com base nesse material filmado, os textos dessas mulheres foram encenados por atrizes, famosas ou não. Na ilha de  edição Eduardo Coutinho se encarregou de criar o "jogo" para o espectador: distinguir o que é "real" e o que é "encenação". Disponível no Youtube.



Grande clássico do Cinema Novo e um dos mais famosos filmes brasileiros no exterior, é um ambicioso e desconcertante retrato das mazelas do sertão nordestino de outrora, em meio à alienação e o atraso da religião e do cangaço. Com uma linguagem narrativa e visual ainda atual, mistura repente, Villa-Lobos, faroeste e o teatro de Brecht para falar de um mundo em transformação, onde Antônio das Mortes, "matador de cangaceiro e sem religião" surge como um dos grandes personagens do cinema brasileiro.



Um marco do cinema brasileiro, indicado a 4 Oscars e o mais famoso filme nacional no exterior. Seu elenco, repleto de atores negros e sem experiência profissional representa uma quebra de paradigmas de mercado. Com uma direção excepcional e uma edição inventiva, Cidade de Deus é, definitivamente, um dos grandes filmes do século XXI.



Em 12 de outubro de 2000 um ônibus carioca da linha 174, que ligava a Gávea à Central do Brasil, foi sequestrado e seus passageiros mantidos por horas como reféns. O desfecho (trágico), foi acompanhado por milhões de brasileiros através das TVs e revelou o despreparo dos órgãos de segurança pública para lidar com uma situação do tipo. Esse contundente documentário refaz a história desse traumático evento tentando entender as suas causas. Para isso, investiga o passado do sequestrador e mostra que a incompetência e omissão do Estado são os motivos principais para que personagens como o sequestrador Sandro do Nascimento se proliferem pelas ruas das grandes cidades brasileiras.



Um dos mais importantes filmes brasileiros, Central do Brasil é uma obra atemporal sobre amizade, tendo como pano de fundo um retrato real e sentimental do Brasil. Impossível não se emocionar. Indicado a 2 Oscars, inclusive melhor atriz, para Fernanda Montenegro.


 
Em uma ode à memória e a força de uma mulher, Aquarius é muito mais do que a o imbróglio político em que se meteu. Sonia Braga, no melhor momento de sua carreira, defende uma personagem viva, real, repleta de contradições, defeitos e qualidades em um filme corajoso e de elevado conceito artístico.



Magníficos poemas visuais sobre a banalidade da morte no século XX. Talvez o filme síntese do século das duas grandes guerras mundiais. Concebido a partir de uma bolsa de pesquisa e editado em uma ilha de edição semiprofissional, é um estranho no ninho do cinema nacional. Um filme surpreendente e a quem ninguém fica indiferente.





O melhor exemplar de uma temática muito própria do cinema brasileiro: o nordestino que imigra para o sudeste em busca de uma vida melhor. Temos aqui dois grandes personagens: Raimundo Nonato, um cozinheiro talentoso e nato, e aquela por quem se apaixona, uma prostituta glutona, louca por seus quitutes. No meio disso, uma história densa e engraçada em que acompanhamos o embrutecimento de um homem em meio à luta pela sobrevivência na grande metrópole.



Um grande sucesso de público e um dos filmes nacionais mais conhecidos, graças à televisão. Texto primoroso, elenco perfeito e direção precisa. Uma obra-prima.




Dezesseis anos antes de Que Horas Ela Volta?, Regina Casé já demonstrava sua grande sensibilidade para o drama naturalista, ao interpretar uma mulher que vive sob o mesmo teto com três homens, em perfeita ordem familiar. Talvez seja o filme mais feminista do nosso cinema, da mesma produtora que anos depois realizaria o fenômeno Dois Filhos de Francisco.

sábado, 21 de janeiro de 2017

JANELA INDISCRETA (Rear Window, 1954)


UM FILME EXCEPCIONAL, MAS QUE INFELIZMENTE PECA NO ÚLTIMO MINUTO.

país produtor: Estados Unidos da América
direção: Alfred Hitchcock
roteiro: John Michael Hayes
elenco: James Stewart, Grace Kelly

sinopse: um fotógrafo com a perna engessada e entediado passa a observar pela janela a vida de seus vizinhos. Até que um dia ele presencia o que pode ser um assassinato, iniciando com isso uma investigação com a ajuda de sua namorada.

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Hitchcock adorava propor ao público exercícios desafiadores, usando para isso do mais puro cinema, ou seja, de suas possibilidades narrativas no uso do som, da montagem e da fotografia. Era um grande esteta, um revolucionário, um homem a frente do seu tempo, sem dúvida.

Foi também um incompreendido em Hollywood. OK, seus filmes faziam sucesso e o diretor era uma figura popular, mas o meio acadêmico não levava a sério seus filmes de suspense. Tanto isso é verdade que, até o lançamento de Janela Indiscreta, Hitchcock havia sido indicado ao Oscar em três ocasiões. Em nenhuma delas por conta de um filme desse gênero, que ele dominava como ninguém.

Temos aqui um exemplo desse pleno domínio de Hitchcock no ofício em contar uma história de mistério e suspense. Janela Indiscreta é um marco no cinema. Nunca antes um filme havia se utilizado de um único ponto de vista e se passado em tão reduzido espaço (o apartamento do personagem de Stewart) para contar, talvez, uma história de assassinato. Digo "talvez" pois tudo o que temos é a visão de um homem e de suas suposições sobre o que acontece à frente de sua janela, em Greenwish Village, Nova York.

Através de uma excelente montagem, Hitchcock dialoga com o espectador e o provoca: será tudo isso a alucinação de um homem, ou realmente aconteceu um crime? Além disso, nos brinda com uma maravilhosa ambientação sonora e visual: nas janelas abertas dos vizinhos a vida transcorre em meio aos sons de um piano, às gargalhadas, ao burburinho da cidade. Sons esses que muitas vezes substituem a trilha sonora, algo muito a frente do seu tempo, há 60 anos atrás, quando uma trilha sonora presente e pouco sutil era a tônica do cinema de Hollywood.

Visto pela primeira vez na minha adolescência, foi um prazer rever esse clássico depois de tanto tempo, pois me foi revelado o quanto ele ainda hoje pode surpreender esteticamente ao público contemporâneo, o que é incrível. Contudo, não pude deixar de me decepcionar, em seu desfecho, com a surpresa desnecessária diante de uma suposição que, confirmada, foi difícil de engolir (prefiro não citá-la para evitar spoiler). Ainda assim, a ousadia do cineasta em entregar ao grande público um exercício narrativo como esse tem que ser sempre louvado. O erro na conclusão é um problema menor diante das qualidades desse que é, com toda justiça, um filme referência para qualquer grande amante da sétima arte.

Visto em VHS nos anos 80 e revisto em 2014 no Netflix.

sábado, 12 de novembro de 2016

FARGO - UMA COMÉDIA DE ERROS (Fargo, 1996)


UMA SUTIL E DIVERTIDA CRÍTICA A UMA SOCIEDADE DOENTE.

país produtor: Estados Unidos da América
direção e roteiro: Joel e Ethan Coen
elenco: Frances McDormand, Steve Buscemi, William H. Macy

sinopse: um homem arma o sequestro de sua própria esposa afim de embolsar o resgate de seu rico sogro. Só que as coisas não saem como planejado, levando uma policial grávida (Frances McDormand) a tentar elucidar o caso.

Metascore (metacritic.com): 85

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Fargo não quer ser levado a sério desde os seus dizeres iniciais, quando se anuncia "baseado em fatos reais", uma brincadeira dos Cohen com o interesse da audiência comum, que adora filmes desse tipo.

A ambientação da história em um ponto perdido no mapa americano, em meio a um rigoroso inverno e milhares de "yaaas", garantem momentos esplêndidos. O riso e o interesse maior da obra estão nos tipos marcantes que passam pela tela, oriundos desse rincão chamado Fargo e de seus arredores.

Não há nesse filme nenhuma tentativa de se transformar os acontecimentos em algo digno de alguma reflexão maior do que a que chega a policial, com toda a sua simplicidade e, por isso, clareza: existem coisas mais importantes que o dinheiro, sabia?

Não é portanto, uma obra que nos faz, depois da sessão, parar para pensar. A história, divertida e repleta de situações que nos mantém de olhos arregalados e respiração suspensa, é tratada como se fosse banal, simples. Para os Cohen, o que está em tela é fruto de uma sociedade doente, capitalista, violenta e que se alimenta mal.

Para mim, esse tratamento dos fatos fazem de Fargo um espetáculo único, inovador. É talvez a grande obra prima dos irmãos Cohen que, recentemente, ganhou adaptação em uma boa série de TV.
 
Visto em DVD em 1997 e revisto anos depois, em arquivo digital, por duas vezes.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O PODEROSO CHEFÃO (The Godfather, 1972)



UMA OBRA-PRIMA QUE QUASE NÃO EXISTIU.

país produtor: Estados Unidos da América
direção: Francis Ford Coppola
roteiro: Mario Puzo e Francis Ford Coppola
elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Diane Keaton, Talia Shire

sinopse: primeiro filme da trilogia, conta a ascensão do filho caçula Michael Corleone ao posto de "padrinho" de uma família mafiosa de Nova York.

Metascore (metacritic.com): 100

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Já tanto se falou e tanto se elogiou O Poderoso Chefão que qualquer análise crítica desse obra-prima se torna redundante e o mais do mesmo. Meu interesse então não é falar do filme em si, mas sim do fato de que esse clássico poderia nunca ter existido como o conhecemos, tantos foram os problemas e intrigas que permearam a sua produção.

A história da família Corleone no cinema começou quando a Paramount, necessitando desesperadamente de uma grande bilheteria, comprou os direitos autorais do livro homônimo de Mario Puzo, um tremendo sucesso de vendas desde seu lançamento em 1969. A primeira opção para dirigir o filme não era Francis Ford Coppola mas, diante da recusa de nomes como Sergio Leone e Peter Bognadovich (por receio de fazerem uma obra que glorificasse a máfia), Coppola foi chamado.

Porém ele somente aceitou dirigi-lo quando viu uma oportunidade de fazer da história de Don Corleone e sua família uma metáfora do capitalismo (será que conseguiu?). Outro motivo, esse sim forte, era que sua produtora estava afundada em dívidas após produzir a ficção científica THX-1138, de 1971, do seu amigo George Lucas, um grande fracasso de bilheteria.

E foi assim que o jovem Coppola, sem grandes poderes dentro da Paramount, teve que negociar cada ideia sua, quase sempre encaradas com desconfiança pelos executivos. A equipe do filme tinha nomes impostos pela produtora, o que tornava o set de filmagem tenso. Isso somente foi resolvido quando ele, já na iminência de ser demitido, expulsou do set todos que não confiava, inclusive o primeiro assistente de direção. Foi um ato desesperado mas que, felizmente, deu certo.

Outra grande dor de cabeça foi a escolha do elenco. Marlon Brando foi aceito apenas diante da insistência quase messiânica do diretor, que como última cartada, gravou o célebre teste de elenco do ator, em que ele coloca os algodões nas bochechas e magicamente se transforma no Don Corleone.

Aqui, um vídeo em que Coppola fala sobre esses tensos momentos: https://youtu.be/rf_ybHpPbyY


Al Pacino foi outro que sofreu, pois era um quase desconhecido na época. Na visão torta dos executivos, o sucessor de Don Corleone deveria ser um ator de maior estatura e porte. Quase trocado na primeira semana, somente foi salvo quando Coppola mostrou aos produtores a emblemática sequência em que Sollozzo e Capitão McCluskey são mortos na cantina italiana.

A epopeia de Coppola à frente de uma produção repleta de ingerências e desconfianças está magistralmente documentada nos extras do DVD que trás uma versão restaurada e comemorativa. É uma delícia ouvir Coppola comentando as cenas. Ele conta os problemas da produção, aponta os erros que somente ele percebia e ironiza a parca visão dos executivos que não entendiam a mente criativa desse gênio da sétima arte.


Poucos no estúdio acreditavam no sucesso do filme e, para minimizar os riscos, deram a Coppola um orçamento restrito, de pouco mais de 6 milhões de dólares. Assim, muitas cenas hoje clássicas foram filmadas a toque de caixa. A sequência inicial, em que a maioria dos personagens são apresentados ao espectador, durante a festa de casamento da filha de Don Corleone, foi filmada em três dias. Em uma produção normal, dada a dificuldade em gerir tantos atores e situações, deveria ser dado ao diretor um tempo maior. Nos comentários de Coppola no DVD percebemos o amargor do diretor com esses problemas de produção. Ele fala que em determinadas situações se sentia dirigindo um filme B.

Claro que isso é um exagero, pois vejam só o elenco que Coppola dispunha, vejam a qualidade de seu fotógrafo Gordon Willis e da música de Nino Rota. Aliás, tal música chegou a ser rechaçada pela Paramount. Acreditem se quiser, houve quem se opusesse a esse maravilhoso tema, um dos maiores da história do cinema. Mais uma vez Coppola se viu obrigado a intervir e ameaçou sair do filme. Depois, com a cabeça no lugar, sugeriu apresentar o filme para um público restrito. Se não gostassem da música, ela seria trocada. Claro que todos adoraram.

A razão para tantas opiniões absurdas e ingerências é que muitos desses executivos (que depois quebraram a cara) estavam sendo guiados não somente por suas reais convicções estéticas, mas também por não confiarem na genialidade de Coppola, um diretor da nova geração de Hollywood e com seus próprios métodos, que andava pelos sets de filmagem com um calhamaço de papéis intitulado The Godfather's Notebook, repleto de anotações e rabiscos sobre as páginas originais do livro. Ninguém compreendia que essa foi a forma que Coppola encontrou para imergir na história de Puzo e adapta-la da melhor maneira possível. E de fato, com tantos personagens, paisagens e passagens de tempo, é incrível a forma natural como as ações fluem homogeneamente. Todos os personagens relevantes tem uma construção e um desenvolvimento; não há furos no roteiro.


Nesse link Coppola fala sobre essas anotações, que foram inclusive lançadas recentemente em livro: https://youtu.be/awce_j2myQw

Mas havia outros problemas além dos relacionados ao set de filmagem. A oposição dos ítalo-americanos ao filme era grande. Manifestações e passeatas falavam em boicote à produção e havia inclusive ameaças aos produtores. As lideranças dessas manifestações diziam que o filme lançava estereótipos sobre os descendentes de italianos. Eram a massa de manobra perfeita para os grandes chefões da máfia da cidade.

Foi preciso muitas negociações entre os mafiosos e os produtores para que as coisas se acalmassem e, assim, as locações em Little Italy fossem utilizadas. O problema é que essas negociações vazaram e, diante da recepção negativa na imprensa, quase provocaram o cancelamento das filmagens. Há inclusive um ótimo documentário sobre esses fatos chamado The Godfather and the Mob (2006). Está no Youtube: https://youtu.be/72HlbaAnZfo


Tentando se manter avesso a tudo isso, Coppola continuava lutando por seu filme. Uma cena que resume toda essa conjuntura é quando Luca Brasi visita o escritório de Don Corleone. O personagem foi interpretado por Lenny Montana, um capanga real da máfia que queria "virar ator" e foi imposto por seus chefes à produção. Só que ele não tinha o menor talento e sua cena com Marlon Brando resultou em um desastre. Coppola resolveu então colocar uma cena extra, em que o personagem, visivelmente nervoso, decora o texto que irá dizer para o seu poderoso padrinho. No DVD, Coppola fala que essa foi uma saída criativa e perfeita para um problema, que acabou "virando uma piada interna da produção."

E foi assim, driblando tantos problemas e limitações, que Coppola dirigiu esse retrato icônico da máfia que influencia até hoje os filmes com essa temática. Um sucesso imenso de bilheteria e o início de uma maravilhosa trilogia aclamada por todos. Difícil acreditar, mas por detalhes, tal trilogia que hoje todos amam, poderia nunca ter existido como tal.

Visto pela primeira vez em VHS nos anos 80 e depois revisto por incontáveis vezes em DVD e mídia digital.

sábado, 22 de outubro de 2016

TOP 10 – CONHECENDO A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Nenhum fato histórico inspirou tantos filmes e séries como a Segunda Guerra Mundial. De acordo com o site IMDb são cerca de 6 mil título relacionados a esse evento traumático que redefiniu a História e cujas consequências até hoje são percebidas. A ideia aqui não é apresentar os 10 melhores títulos sobre a Segunda Guerra, mas sim aqueles que, em ordem cronológica, melhor contam os eventos terríveis do conflito.


  • Há duas causas principais para a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Uma foi o Tratado de Versalhes em 1919, que penalizou duramente a Alemanha, derrotada após a Primeira Guerra Mundial. Os seus desdobramentos (inflação e desemprego) insuflaram no povo alemão um perigoso sentimento revanchista e nacionalista. 
  • A outra causa foi a crise de 1929, que levou a um colapso financeiro mundial sem precedentes, atingindo em cheio uma Alemanha ainda se reerguendo das pesadas dívidas pós-guerra.
  • Mas será que esses acontecimentos e fatos por si só explicam a ascensão de Hitler? Esse série em 6 episódios produzida pela BBC faz uma inquietante indagação: como uma nação civilizada do coração da Europa admitiu que uma figura grotesca como Hitler se tornasse chanceler da Alemanha em janeiro de 1933?


  • Após a ascensão de Hitler, a Alemanha viveu uma fase de militarização e de desrespeito a tratados internacionais. O ódio aos judeus tornou esses cidadãos de 2ª classe. Franceses e ingleses, algozes da Alemanha na Primeira Grande Guerra, faziam vistas grossas ao totalitarismo de Hitler. Tal covardia criava o ambiente propício à guerra.
  • Mas a Alemanha temia a União Soviética de Stálin. Assim, nasceu o Tratado de Não Agressão entre os dois países, com duração de 5 anos. Foi a senha para a invasão da Polônia, por ambos, em setembro de 1939.
  • A Polônia tinha na época uma grande sociedade judaica. Iniciou-se então a alocação desses judeus nos chamados guetos, sendo o mais famoso deles o de Varsóvia, retratado com perfeição e crueza em O Pianista.
  • Dois dias após a invasão, França e Inglaterra não tiveram outra saída e declararam guerra à Alemanha.

 
  • O holocausto judeu é um dos fatos mais inquietantes de Segunda Guerra. Pela primeira vez um país criava uma ampla estrutura de logística e pessoal para exterminar um povo. A grandiosidade de tal rede de extermínio, com suas ferrovias, trens de carga e campos de concentração somente foi revelada ao mundo após a queda da Alemanha. Tarde demais.
  • Ganhador do Oscar 2016 de melhor filme estrangeiro, Filho de Saul mostra a logística em um campo de extermínio através das ações de Saul, um membro do Sonderkommando (grupos de judeus prisioneiros que eram forçados a trabalhar na manutenção da estrutura dos campos). 
  • O horror em levar seus pares para a morte nas câmeras de gás e depois jogar os corpos em incineradores faz de Saul um ser sem emoções, robótico; mas ainda com humanidade suficiente para arriscar sua vida por um enterro digno a um menino, que ele reconhece como seu filho.


  • Hitler acreditava que seria questão de tempo para derrotar a Inglaterra. Seu egocentrismo aumentou ainda mais após a incrível capitulação da Holanda, Bélgica e França. Para uma Europa atônita e amedrontada, a Inglaterra de Churchill se tornou a última esperança.
  • O plano nazista era minar a Inglaterra através do controle do mar. E, de fato, dependente de importações para abastecer-se, a Inglaterra via com pesar cada navio mercante afundado pelos temidos submarinos nazistas.
  • Foi então que Alan Turing desenvolveu uma máquina capaz de decifrar os códigos Enigma, sistema criptográfico usado pelas forças alemãs para troca de mensagens. Graças a isso, comboios de navios mercantes podiam prever as rotas inimigas.
  • O filme O Jogo da Imitação mostra que uma guerra não é ganha apenas no campo de batalha e que a dedicação de cientistas e espiões foi decisiva para a vitória dos Aliados.
 
  • Diante da dificuldade em dominar uma ilha bem defendida como a Inglaterra, Hitler rompeu o Pacto de Não Agressão e invadiu, em junho de 1941, uma surpresa União Soviética, que perdeu grande território e praticamente toda sua esquadra de aviões. O mundo em espanto prendeu a respiração. Será que a potência comunista de Stálin também capitularia? 4 milhões de soldados soviéticos foram feitos prisioneiros. Outros milhões morreram em combate.
  • Mas veio o inverno e, junto a ele, um poder de reação impressionante do exército soviético. Começava aí uma surpreendente virada nos rumos da guerra em que a superioridade numérica do exército vermelho e a ajuda externa de Inglaterra e Estados Unidos foram fundamentais.
  • Em 1943, com o fracasso em tomar Stalingrado, Leningrado e Moscou, as forças nazistas começaram a ser empurradas de volta à Alemanha, em total desmantelo. 

  • Os Estados Unidos mantiveram-se neutros o quanto puderam, apenas ajudando materialmente a Inglaterra durante o cerco à ilha. Mas isso mudou com o bombardeio japonês em dezembro de 1941 a Pearl Harbor, uma base americana no Havaí. 
  • Estava declarada a guerra ao Japão, mas não a Alemanha.
  • Foi então que algo surpreendente ocorreu: Hitler, de forma desmedida, declarou guerra aos EUA. Só que demoraria ainda mais de 2 anos para que as tropas americanas e inglesas desembarcassem na França (enquanto isso, reconquistaram o norte da África). Essa demora causou desgosto em Stálin, que combatia sozinho os alemães, recebendo contudo, armamentos e informações importantes de seus aliados.
  • O desembarque na Normandia em junho de 1944 foi um evento decisivo para o equilíbrio das forças (havia a possibilidade de Stálin tomar sozinho toda a Alemanha) e apertou o cerco ao nazifascismo, por todos os lados.


  • De quase vencedor e exímio estrategista militar, Hitler transformou-se, na visão de muitos historiadores, em uma das maiores fraudes da Segunda Grande Guerra. Motivos há para tanto: sua decisão amalucada de invadir a URSS sem o preparo para o inverno russo (confiava que tomaria Moscou antes da neve chegar) somada à soberba de declarar guerra aos EUA. Há ainda no seu currículo diversos erros estratégicos em batalhas, ocasionados por sua incapacidade em ouvir os seus comandados e de fazer recuos estratégicos.
  • Mas há também um fato primordial para a derrota: Alemanha, Itália e Japão jamais agiam em sintonia. 
  • Com os soviéticos tomando Berlim em 1945, o desespero, desgosto e loucura desse líder encontram-se límpidos em A Queda, um magnífico retrato da decadência e da derrota. Bruno Ganz tem aqui uma interpretação inesquecível, tornando-se o rosto do ditador Hitler no cinema.


  • Assim como a Alemanha, o Japão também promoveu a guerra afim de conquistar recursos minerais. Só que o seu palco foi o Pacífico e Ásia. E sua guerra de conquista inicio-se antes mesmo do conflito na Europa, com a anexação da Manchúria. 
  • Já com a Segunda Guerra em curso, aproveitaram-se da debilidade da França e apropriaram-se da Indochina, uma colônia francesa. Foi então que os EUA, preocupados com o expansionismo japonês, anularam acordos comerciais e iniciaram o embargo de petróleo e matérias-primas que o Japão necessitava para sua máquina de guerra. Foi a senha para o que o Japão invadisse Filipinas, Indonésia, Hong-Kong, Malásia, Birmânia e ainda bombardeasse Pearl Harbor.
  • Os EUA eram assim tragados para a guerra e, de 1942 a 1945, combateram o Japão no Oceano Pacífico, ilha após ilha, até os fatídicos dias em que lançaram duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, provocando a rendição nipônica.


  • Churchill declarou, durante um de seus memoráveis discursos, que na Segunda Guerra "as máquinas venceriam as máquinas". Sem entrar no mérito se estava certo ou errado em sua profecia, o que sobressai nessa magnífica série documental é o ser humano, em imagens repletas de dor e inesquecíveis.
  • "Em uma guerra não se matam milhares de pessoas. Mata-se alguém que adora espaguete, alguém que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias" (Cristian Boltanski)


  • Uma das principais consequências do genocídio em massa dos judeus europeus foi a criação de Israel em 1948, após uma intensa migração para o Oriente Médio dos sobreviventes e dos que tiveram condições de fugir ao cerco nazista.
  • Em 1960, Adolf Eichmann, um oficial nazista foragido, foi levado a julgamento em Israel, o que atraiu a atenção de Hannah Arendt, conceituada filósofa política alemã. Daí nasceu a sua obra mais controversa: Eichmann em Jerusalém, em que  afirma que ele nada mais era do que um burocrata que cumpria ordens superiores, movido pelo desejo de ascender em sua carreira profissional. Cumpria ordens sem questioná-las, sem refletir sobre o bem ou o mal que pudessem causar.
  • Segundo a filósofa, o mal é político, histórico e se manifesta apenas onde encontra espaço institucional para isso. A trivialização da violência corresponde, assim, ao vazio de pensamento, onde a Banalidade do Mal se instala.